Minha alma Black

SALVE MARTIN LUTHER KING !
Há 50 anos, eu ainda era muito jovem, mas sabia perfeitamente o que estava acontecendo. Nasci mesmo em uma época vergonhosa, que nem faz tanto tempo assim, em que havia apartheid violento nos EUA. Essa bela nação poderosa, que mais tarde eu aprenderia a visitar e apreciar com freqüência, ainda fazia parte do atraso da discriminação, um exemplo nefasto num mundo recém-saído da Segunda Grande Guerra. Poucos anos antes do meu nascimento, no mundo, respirando o mesmo ar que eu respirava, ainda havia Hitler e Mussolini, entre outros ditadores brutais, numa Europa convulsionada pela chegada do comunismo no Leste.
A reflexão é :
– Como sou velho ?
Ou será :
– Como tantas coisas absurdas são tão recentes ? Como tantos atrasos ocorreram há tão pouco tempo atrás ? E como tudo parece tão arcaico ? Será mesmo ? Será que acabou ?
Fiquei MUITO feliz no dia em que eu escrevi e gravei este tributo a todos os meus inúmeros ídolos e incontáveis amigos inter-raciais ( na escola, na rua, na vida, na música ).
Acho mesmo que sou negro lá no fundo da alma, lá dentro onde a voz de Ray Charles reverbera sem fim…

Tributo (Cena de Cinema)

Eu queria que você soubesse
que pra mim não existe diferença de cor
Tudo que ainda trago no peito engasgado sobre preconceito e “raça superior”
Desde pequeno eu escutava calado as façanhas do mito ariano, opressor
Homens na sala, meu tio depositando as armas na estante, me enchendo de pavor…
As inocentes piadas infames de negros, judeus, muçulmanos, orientais, índios e latinos, como se não fossemos também genes misturados…
como se não fossemos também discriminados
Mesmo sem saber, mesmo sem querer nem querer saber
mesmo inconscientemente vivendo numa redoma de ilusão
me feria ver um mundo apartado em guetos
Algo me dizia que eu não via futuro
Favelas, distritos, conflitos, o bairro dos ricos
O ovo da serpente e a semente do mal
Culto ao fascismo, fascínio do nazismo, Hitler, Stalin, Mussolini, Franco e Salazar, e todos os tiranos de qualquer lugar
Fizeram a história aprendida na escola…
E quase que passou em branco o Quilombo de Palmares, saga de Zumbi,
Aprendemos mais (a) Guerra do Paraguai
Chacina, assassinato, nódoa que não sai,
Enquanto isso Repórter Esso, Martin Luther King e o rei Cassius Clay…
Eu vi as lutas todas, round por round, nocaute por nocaute
Muhammad Ali…
Por aqui… era enrustido… hipocrisia pura – a lenda do povo cordial…
Ainda bem que tudo mudou, (e) tinha que mudar
Meu país – o último da fila da abolição, o primeiro da classe em miscigenação…

Hoje eu consigo entender porque estrangeiros me fazem, sempre, estranhas perguntas: Where are you from? – Are you na Afghan? – Are you from Pakistan?

E sinto na pele o que querem dizer…
Deve ser a minha herança indígena no sangue, na cara, na pele vermelha
dourada de sol, o sol do Brasil,
onde as mulheres são lindas e tardam a envelhecer
Eu preciso fazer um tributo a você,
a todos os amigos de todas as cores
que me quiseram bem, que me fizeram ser o que sou e desprezar a discriminação…
Ídolos da minha mocidade foram, são e serão… Ray Charles, Chuck Berry, Little Richards, Otis Reding, Jimmy Hendrix, Bob Marley, Stevie Wonder, Marvin Gaye, Sly & the Family Stone, Kool and the Gang… e por aqui, também, Jorge Ben – ou melhor, Benjor, Milton, Tim Maia, Baden e Gil.

( 25 de Agosto de 2013 )

Show na Bahia em 2013

Gratidão à Bahia
Acordei na madrugada, perdí até o sono. O dia nasce, lá longe, no mar profundo da Bahia… Logo mais estaremos juntos no TCA ( Teatro Castro Alves ), para um show de importância singular para mim. Estamos com ingressos quase esgotados, numa resposta de público vigorosa, contundente, uma repercussão inesquecível. Quero agradecer muito, mas muito mesmo, à Bahia que me recebeu e recebe com tanto calor, que me tem um carinho tão especial. Prometo que será um show histórico, porque eu andava engasgado com esse meu débito à Cidade de Salvador…à terra da Bahia… Inacreditáveis décadas nos separam dos shows consagradores dos anos 80 na velha Concha ( antes da reforma que a profissionalizou para a modernidade ). Sempre eu guardava na memória o desejo de oferecer à Bahia um show maiúsculo, num lançamento de um disco maiúsculo, mas uma longa covardia empresarial tratou de me manter distanciado desse chão, que afinal, é a minha casa. Onde tudo nasceu. Esse palco sagrado onde pisei pela primeira vez em 1977, num evento chamado ExpoSamba, um festival que reunia João Bosco, João Nogueira, Silvio Cesar, Noite Ilustrada, Belchior, quando então conheci Ildasio Tavares, que me abençoou veementemente, e legitimamente, em nome da Bahia… Na ocasião, fomos a um terreiro importante, da Nação de Ketu, em Paripe, num passeio de escuna. Ali, ouvi pela primeira vez a revelação de ter Mamãe Oxum coroando minha cabeça. A predição de que um dia eu faria uma canção para as águas, que aqui seria sempre acolhido com todas as portas abertas, por força de uma peculiaríssima conjunção espiritual , e de que esta terra, por fim, se tornaria a minha terra, por escolha consciente e inconsciente, nos planos material e sobrenatural. Quero agradecer pelas inúmeras confirmações e milagres que aqui se operaram na minha vida. E agora, mais este dia… Este é o melhor presente para o meu aniversário de 60 anos (dia 28). Sei que o meu papel na vida é, além de alegrar, fazer o público chorar. Não vou fazer por menos à Bahia, que me fez, e faz chorar, cada vez que eu chego de avião, cada vez que eu penso nela, esteja onde eu estiver. Valeu ! A gente se vê logo mais à noite.

Abraço!
( 12 Julho 2013 )

Papo cabeça na madrugada

Um dia me deu um clique num avião, e enxerguei o óbvio:
tudo o que vemos, sentimos, percebemos, do mundo, do cosmos, da vida, é uma mera representação. Não vemos o que é. Vemos o que conseguimos representar a partir do que é. Os átomos são tão distantes uns dos outros quanto a Terra de Júpiter ou do Sol. Melancias, laranjas, limões, ervilhas e grãos de sal a muitos quilometros de distancia uns dos outros… Essa é a realidade do Sistema Solar, e da matéria em suas estruturas. A física prova isso . Quando batemos a mão na mesa, o choque não é entre átomos ou moléculas. É só entre campos eletromagnéticos. Ondas.
Vibrações. Não há choque propriamente entre átomos, entre “massas”.O Universo flutua no Nada.
Quando pisamos o chão do planeta, se dependessemos dos átomos e sua infinitesimal dimensão, os pés entrariam na terra, como se nada existisse entre nossos corpos e o substrato. Se interpenetrariam totalmente, não fossem os campos magnéticos. Já pensaram nisso ? Quando dizemos que existe uma mente criadora do universo, cometemos muitos erros básicos. O que é uma mente ? O que pensa ? E o que é exatamente pensar ? O que pensamos que fazemos ? Tudo representações, sem fim…sem fim…A grandeza do universo, tando para fora como para dentro, é tão,mas tão acachapantemente maior, a cada dia que a ciência avança, que qualquer “visão religiosa” para o cosmogênese é um mico completo, uma representação caipira da realidade monstruosa da Obra. Não digo em momento algum que duvido da grandeza da Obra, mas sim reforço e multiplico essa grandeza. Se até nossos pés no chão são uma ilusão física, que dirá da pretensão humana das Escrituras, todas as Escrituras, tudo balela inutil. A África tem etnias especializadas na comunicação com o Sobrenatural através da dança, do ritmo. Nas minha parca opinião, muito mais profunda do que a comunicação das etnias semitas, escriturárias. São raças de escribas, sem o menor talento para o ritmo ou a dança…Para compensar sua deficiência, todos os troncos dessa mesma árvore: Judeus, Cristãos, Muçulmanos se especializaram em outra linguagem…Livros. Bonita também, válida também, mas precária.pois essa não é a única forma de se tentar codificar a Verdade.
E a Verdade está muito, muito, mas muito mais além da compreensão dos Dogmas.
Devemos ser a piada da Galáxia !
Se aquilo que imaginamos é fato : de que existem milhões de civilizações no Universo, grande parte em estágios muito superiores ao nosso,, devemos ser motivo de observações vexatórias : Ora, em nossa pretensão babaca,inventarmos um Deus à nossa semelhança, pra que Ele nos recriasse à Sua semelhança, é, no mínimo, ridículo e provinciano.
Ainda bem que tudo são apenas “representações”.
( 20 Maio 2013 )

Complemento do papo cabeça. Preciso concluir porque muito ficou sem uma amarração “espiritual”, então eis a minha segunda parte.
Por mais que eu tenha parecido materialista no texto anterior ( quem não leu, leia antes de prosseguir aqui ) só falei em “representações” que somos capazes de elaborar. O Universo existe,insondável. A morte, por exemplo, também pode ser uma representação de um “fim”. Não há fim em nada. Tudo prossegue. Como ? tentamos imaginar, e até crer. Não temos culpa de sermos limitados.A Ciência também é uma mera representação da realidade. E é limitada. Sempre será face ao infinito. A vantagem dela sobre a religião , é que ela avança mais visivelmente do que a fé. A fé parece uma coisa estática, ancestral, antiga, não tem um processo visivelmente evolutivo. Isso eu questionarei sempre.
Nossa visão de nosso “ser” também é uma mera representação. Somos muito , muito mais do que parecemos. O que, exatamente, não sei. Mas há muito em nós para o que temos de reconhecer nossa total ignorancia. Viví muitas,inúmeras experiências extraordinárias, claramente “sobrenaturais”, das quais nunca duvidei, e para as quais as diversas pessoas dariam diferentes interpretações. Considero minha passagem na Terra absolutamente milagrosa, vivo em permanente estado de gratidão. Vou contar aqui uma passagem muito misteriosa.
Alguns anos atrás, eu lí um livro que saiu com grande impacto, “Deus, Um Delírio”, do biólogo darwinista inglês Richard Dawkins – mundialmente aclamado e controvertido, por defender a visão ateísta e cientificista. O livro se propõe a tornar o leitor atento (e capaz de compreender suas partes) um descrente em qualquer forma de “teísmo”, um “ateu”.
Pois bem- lí ,gostei MUITO e entendi perfeitamente.
Aceitei completamente a argumentação.
No momento exato em que eu fechava a última folha, o telefone tocou. Era um convite pra eu ir tocar em Belém, na passagem do Círio de Nazaré, para a Nossa Senhora, Santa Maria, na sua Berlinda. Fui, é claro, ainda sob o impacto da leitura de um livro maravilhosamente demolidor. Não adiantaram nada todos os argumentos de Dawkins. Chorando copiosamente, cantei na passagem da “corda”, para 2 milhões de fiéis. No dia seguinte, fui ver por onde a “corda” estava, e me dirigí à Basílica. Eu não vestia nem branco e nem azul, estava de calça preta e camisa vermelha.
Ao chegar no final da “corda”, a Berlinda iria adentrar a Basílica, e faltava um componente da equipe de “Marianos” para carregar o andor. Me chamaram, de roupa completamente inadequada para a função – ninguém reclamou- e lá fui eu, chorando sempre, porque a figura de Nossa Senhora reavivou pra mim, direto da infância. Milagre ? A Santa me quís ali ?
Estaria essa Entidade em mim ?
Provavelmente. Eu fora chamado para festa por um motivo- Planeta Água tinha sido tema da Campanha de Fraternidade, é uma música com conexão direta com o Elemento do Brasil, com a espiritualidade da Amazônia, dos aquíferos. E a Virgem é sempre relacionada com a água, no mundo todo.
Como posso ser insensível ?
Mas o que me irrita é o USO DA FÉ pela ignorância, pela GANÂNCIA, pela ENGANAÇÃO.
Como bem replicaram algumas pessoas de fé, face ao meu texto anterior, essa visão da nossa “semelhança” com o Criador é enganosa.
Tudo é semelhante ao Criador. Seja lá Quem for, o Que for,
Se questiono o “algo mais” da forma que nós às vezes enxergamos, não questiono o “algo mais” em momento algum.
Há, sim, MUITO MISTÉRIO EM NÓS e os milagres são o dia-a-dia, basta prestar atenção.
As pessoas agradecem quando fazem cocô ?
Pois deveriam.
Todas as noites, dentro de nossos corpos, uma equipe formidável de manutenção conserta tudo.
A cada dia, renascemos como o Sol.
( 25 Maio 2013 )

Brasil em chamas

Uma mistura explosiva de ignorância, hipocrisia, imediatismo, fracasso institucional, desplanejamento, precariedade social e política, revisões irresponsáveis da legislação, corrupção da “direita”, corrupção da “esquerda”, crime, vulnerabilidade total.
Este ano vamos pegar pesado porque estamos sob o domínio da boçalidade.
E para quem pensa que estou me referindo ao Poder em exercício, só devo acrescentar que esse quadro de fracasso NÃO É DE HOJE.
É DE SEMPRE.
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Brazil Deforestation

Primeiro post

Passado um tempo nas redes, penso que para todos nós ocorre um contínuo aprendizado…Houve o tempo dos Orkuts, MySpaces da vida, e teve a proveitosa experiência do Facebook, com uma escalada de popularidade, só que eu sentí algo fora do lugar. Por essa razão, a princípio serão re-postados aqui textos importantes pra mim, que constavam no Facebook desde a criação daquela página, no começo de 2013. A pagina se revelou muito ampla, tanto em números quanto em escopo de alcance…E eu queria um lugar, um “cantinho particular” pra exercitar minha proposta de uma autobiografia em pílulas, ou uma espécie de “livro orgânico” a ser escrito e lido em real-time, o que é uma modalidade muito interessante…Já deixei clara a minha opinião sobre as biografias, anuências e proibições, autorizadas versus não-autorizadas… Acho que o melhor antídoto para quem pode se tornar alvo de biografias invasivas, incômodas e especulativas é tratar de contar generosa e humanamente a sua própria história, enriquecendo o seu texto com detalhes minuciosos e memórias bem pessoais. Até mesmo dando elementos para que os eventuais trabalhos biográficos de terceiras pessoas venham ao público mais ilustrados, enriquecidos, contextualizados, e menos superficiais ou gratuitos…E mesmo que as minhas histórias não venham a interessar a nenhum biógrafo, ao menos certos relatos são prazerosos de serem contados…E é pra isso que este lugar está reservado…O exercício da memória se nos revela prodigioso, e deve ser praticado porque o acervo de experiências de uma vida deve estar sempre sendo revolvido, é nosso tesouro maior…