O sucesso na arte

É incrível como sempre foi poderoso o “mercado da opinião”,as “curadorias”,a eterna balança da indulgência versus implicância,que levada às últimas consequências,se transforma em “culto” versus “condenação”.
Romero Britto é um fenômeno, independentemente do que achem que é Arte ou não-Arte.
Mas é único, e fez seu o sonho de nove entre dez artistas do mundo… Vender sua arte !!!
O maior problema na vida de Van Gogh : ser um mau vendedor.
Essa foi a verdadeira causa de sua agonia, de sua piração, e de sua morte. E muito do seu mito também – a injustiça,o drama,são fundamentais para o mundo se “solidarizar pela tragédia” – mundo macabro.
Mas eu confesso que, diante de um Van Gogh, qualquer um fica desconcertado porque é grande, é monstro, e ponto final.
Eu ví, com estes olhos que a terra há de comer, os Van Goghs a centímetros de distância, para “devorar” suas pinceladas trágicas.
Mas essas sensações diante da Arte são frutos de uma idéia construída…

O problema de Romero Britto com a crítica não é a grana inacreditável que ele está ganhando, mas sim a presença generalizada de seus trabalhos por toda parte. E a onipresença pode ser prejudicial, porque todo mundo tem, e se torna “menos valioso” já que a valia é proporcional à escassez e exclusividade… Armadilhas do sucesso…
O segredo de Romero Britto é uma combinação de marketing com ACABAMENTO. Os produtos dele são muito bem acabados, o material é de primeira, sem pobreza, os esmaltes e vernizes são espessos, generosos. Agradou em cheio.
É decorativo ? Certamente.
Romero é Pop, se apropriando despudoradamente de cores, texturas e formas em “estilo Picasso/Miró” – que se tornou um “top-trend” universal – é completamente competente e predador em sua esperteza : mas faz coisas belíssimas também.
Se Andy Warhol tem frequentado o MoMa, o Metropolitan, a Tate, a Documenta de Kassel, porque não deixar Romero chegar lá ?
Para o meu paupérrimo e prosaico entendimento crítico, Warhol fez muita bobagem também, mas morreu a tempo de não cair em desgraça pós-sucesso…Muitos “darlings” da crítica têm esse fator certeiro : morrer é um ingrediente fundamental na construção da Lenda…
O ideal é morrer logo após o sucesso: não esperar o refluxo.
Ou então sumir, como Greta Garbo ou Rimbaud…Ou os Beatles…

Belchior, por exemplo, demorou muito para implementar seu plano Rimbaudiano. As pessoas viram êle “na pior…”
Mas está virando um mito – e com muita justiça.

Bob Marley foi outro que demorou um pouquinho para partir deste insensato mundo. Quase caiu. Mas não demorou a morrer, o suficiente para prejudicar a imagem e a construção de sua lenda impecável.

Vejam bem, não estou comparando Britto a Marley, a Rimbaud , nem a VanGogh, e nem muito menos a Picasso, o meu grande ídolo catalão,artista monumental,bon-vivant,esperto,milionário,que viveu tudo que todos seres humanos gostariam de viver e que ninguém conseguiu jamais derrubar. Mas devem ter tentado…
O mundo não tolera o sucesso.

Humilde, prolífico, muito trabalhador e focado, Romero tem a mesma esperteza que um Malcom McLaren teve no Rock.
E Mc Laren era “roqueiro” ? Nem de longe.
Picareta ? Para muitos, McLaren era um mero mercador de faro oportunista. Mas fez também coisas legais, e é cultuado.

Isso é que deu o “modernismo” levado ao extremo,a busca irrefreada de “quebra de valores”,que deu tantos louros a tantos pastiches,meros rabiscos e os mais variados dejetos de pura picaretagem…
Quantas vezes, em museus, nos deparamos com quadros “importantíssimos”, cercados de uma multidão ignara, tirando fotos e babando ôvo, anotando garatujas vazias em seus ridículos caderninhos de puro fingimento erudito, perante “obras de Arte” que visivelmente são uma bosta, que só conseguem achar belíssimas os conhecedores de refinados memoriais descritivos e suas (já repetitivas, manjadíssimas) teorias de História da Arte…
Essa discussão é velha conhecida.
O mundo assistiu,no Século XX da transgressão,a vários endeusamentos de artistas que colocavam nas paredes das galerias mais conceituadas papel higiênico sujo com fezes, animais podres em decomposição,e outras “propostas estéticas altamente revolucionárias” que, francamente, a estas alturas já não têm mais significado nenhum. Se tiveram, foi significado fugaz, volátil, ninguém lembra.
Diante de um evidente “pastiche picareta” , eu prefiro mil vezes um bom Romero Britto – porque é evidente que é bonito e ponto final.

Romero não deve se importar com essa campanha de desgraçamento que os pedantes querem lhe impor.

É um profissional que disse sim aos seus desejos, disse sim aos desafios, disse sim aos desejos da classe média/alta, disse sim para as regras de mercado de um mundo globalizado, disse sim para os que acham que seu trabalho é Arte. E é um brasileiro que DEU CERTO !!!!
Milagres acontecem !

Um jornalista perguntou a Luciano Pavarotti qual era o segrêdo dele ter se destacado tanto numa prodigiosa geração de tenores, para se tornar o número um do mundo, uma lenda…
E Pavarotti, bonachão, respondeu que numa carreira artística o que vale mais é a capacidade de dizer NÃO.

Eis o dilema : dizermos SIM ou dizermos NÃO…

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/05/1623971-representantes-das-artes-tentam-explicar-a-rejeicao-de-romero-britto.shtml