Mundo em Perigo – sonho ou pesadelo

Noite agitada, acordo de um sonho, quase pesadelo de tão lindo, colorido e gigantesco: flutuava numa nave interestelar, a velocidade incalculável, e passava pelos arredores de Saturno, Jupiter, Urano e Netuno, com suas cores inusitadas de mares de amônia, oceanos de metano, tempestades de ácido sulfúrico, nuvens psicodélicas de argônio, alvoreceres e crepúsculos de gases inóspitos e exóticos, um universo completamente inimaginável e incabível para minhas pobres retinas de inseto. A nossa Terra azulzinha minguava, um pontinho perdido nas miríades de pontinhos perdidos nas miríades de galáxias, pontinhos perdidos nas miríades de sistemas de universos, pontinhos perdidos nas miríades de big-bangs, acordei com calor, sede arfante e coração agitado… Nenhuma gota de água no chuveiro, nenhum pingo na torneira. Amanhecia, em meio aos gritos distantes dos milhares de noias perdidos em labirintos de crack, a nossa megalópole imensa, seca, suja, maltrapilha e mergulhada em seu sono ilusório , em aparente calma, caminhando para o colapso total, que os políticos preferiram nem comentar, horas atrás, em seus agressivos debates inúteis de vespera da eleição. Olho pela janela da noite, nas ruas o caotico e ridículo emaranhado de postes e cabos eletricos, transformadores e fibras ópticas por onde flui toda a recente modernidade ilusória. Dos ítens supérfluos aos componentes mais essenciais, tudo se igualava em míseros bits, naquele emaranhado, dos games aos “posts”, dos “likes” e “tweets”, passando pelas notícias, pela cultura, pelo poder, pelo crime, pelos acessos bancários, controles de estoques, pedidos, compras, vendas e entregas, passando por ali também todos os exames clínicos, os controles hospitalares, UTIs, medicamentos, transfusões de sangue, oxigênio, catéteres,todos os sinais vitais e de esperança, todas as creches, escolas, asilos, industrias, empresas, produção de alimentos, cameras frigoríficas, usinas de combustíveis, siderurgicas, companhias eletricas, usinas atomicas, todas as demais logísticas, todos os processos, governos e eleições de urnas suspeitamente infalíveis e inverificáveis, tudo dependendo da volátil eletronica, de frágeis microchips por toda a parte, nas geladeiras, televisores, nos telefones, nos carros, nos navios, nos caminhões, nos aviões, nos trens, nos metros, nos ônibus, nas vans, tudo desprotegido, e o Deus Sol, milenarmente cultuado como benfazejo astro supremo, nascia no horizonte com sua beleza ígnea, agora uma coroa de labaredas assassinas, agora transformado em inimigo gigantesco, implacável da Vida, efeito Carrington, por obra da imprudencia humana, jamais tão vulnerável em toda a nossa saga, desde os primórdios da História. Uma lambida eletromagnética, da mesma magnitude do que ocorrera em 1859… ( esta, ao menos, nos foi reportada, pois o mundo já entrava na Era de eletricidade…mas quantas existiram antes ? )
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tempestade_solar_de_1859
Extinção cíclica, eis a essência da Vida. Um jornal velho esvoaça ao vento, na rua deserta. Uma foto das represas secas, esturricadas, cena dantesca de uma imbecilidade monumental. Retrato de uma humanidade perdulária, preguiçosa e comodista, como eu, e todo povo que acreditou, como eu, na água como um insumo inesgotável. Eu mesmo, que um dia escreví uma ode ao ciclo da água, estava cantando a perenidade e beleza desse elemento, quanta ilusão. Vejo hoje tudo secar, um calor insuportável , mais e mais a cada verão , a cada ano, e agora essa caatinga no Sudeste, os rios sem piracema, as culturas de frutas e grãos indo pro beleléu , as cidades atulhadas de gente sem banho, idade da pedra. Resta-nos esperar. Resta a mim, na minha “miragem sobrenatural” de quem já fez, comprovadamente, ( com milhares de testemunhas ) a chuva ir embora, tantas vezes, nos shows ao ar livre, clamar :
Agora é sério !
Sou eu, o cara do Planeta Água ! Estou solicitando, encarecidamente à Diretoria : COMECE A CHOVER IMEDIATAMENTE, e só pare quando eu mandar ! .
Dito isso, então voltei para a cama, e fui dormir sossegado. Final da mensagem, Cambio.

obs : anotem bem a data e o horário.
se desta vez a pajelança der certo, me aguardem em 2018… !

( 31 de Outubro de 2014 )