A Arte da Representação

Por força das “redes sociais”, estamos numa época de “representação”, uma época artificiosa em que as pessoas não valem pelo que são, mas sim pelo que “representam”.

Olhe em volta, olhe para dentro, constate isso, é fato. Quase tudo é ativismo e militância.

Pior : muitas vezes nossos “papéis” nem são escolhas nossas, em profundidade, e sim “papéis atribuídos” pela sociedade, e não sabemos, simplesmente desempenhamos !
E quase tudo perdeu poder de transformação real porque se tornou raridade toda espontaneidade do mundo.
Representar, dramaturgicamente, é incorporar-se de um personagem, é “assumir um papel”.
Estamos, assim, fazendo parte de uma grande peça de Teatro, para o bem ou para o mal, em farsa, drama, comédia ou tragédia.

E nada é real.

Real é o sopro soturno e fragoroso
da brisa indiferente ao vozerio da humanidade insana.

THC

Hoje eu sou barroco. Alguns contemporâneos meus, bastante criativos por sinal, mas que parecem ter parado no tempo, fazem questão de vir a público fazer apologia de seu “lado libertário” bandeiroso… Na parede, um manifesto… Seja Marginal, seja Herói… cada geração com seus signos inalienáveis… tudo é muito compreensível, tudo significa, mas o fato nú e crú de nossa geração é que… o THC deixou de funcionar quando virou ativismo.

Era interessante e muito inspirador quando era revestido de mistérios, como uma sociedade secreta, uma alquimia iniciática.

Esse caráter sigiloso e particular é que era verdadeiramente transgressor – combinado às propriedades psicoquímicas, era a verdadeira chave de uma Era de Ouro da Percepção !

Qualquer ingrediente, aliás, quando se politiza e emburrece na polarização reducionista, vira manifesto libertário, bandeira marketeira para todos os burros, desprovidos de talento, e na nova Pólis eletrônica os enganadores não têm limites para sua empulhação…

Nossos lados secretos são muito mais revolucionários do que qualquer posicionamento público. O território público se torna meramente político, o que é um reducionismo tóxico e desimportante.

Eis o paradoxo da modernidade : nem um aditivo emblemático como o THC escapa dessa regra.

O THC deixou de funcionar quando virou ativismo.